19 fevereiro 2010

Gótica

Reparei primeiro nas unhas pintadas de preto descobertas nas luvas de dedos cortados. Depois vi o desenho do Jack Skellington. Hum... Bloqueando a voz da minha avó que fala na minha cabeça dizendo “Esta juventude está perdida!”, não consigo deixar de me perguntar porque deseja uma rapariguinha, que não terá ainda 18, anos ser feia? E imediatamente surge a questão, e estes pais, o que pensam, o que sentem quando olham a filha? O piercing a meio da linha do beiço inferior, a gargantilha com uma corrente de metal e uma argola sugerindo uma trela que ali se pode prender e levar esta menina, a sua menina... onde, com quem? A cruz ao peito, o corpete com 4 fivelas que se ajustam à volta da cintura, a saia comprida com folhos, mas negra, tudo negro, o Kispo, a mochila, tudo!

Olho então a cara. Queixo fino, a boca pequenina, bem desenhada, nariz ligeiramente arrebitado, testa marcada pelo acne. Não é bonita, nada mesmo. Tem uma cara tão vulgar que provavelmente não teria reparado nela não fossem as unhas e o preto.

E assim se evita a normalidade, assim um espírito único, leve, luminoso, fechado num corpo normal, numa rapariga normal, fechado no interior de Portugal, faz-se notar e encontra a pertença e a comunhão numa comunidade gótica que acolhe com base neste feio, neste escuro. Uma comunidade que vai alem das convenções, um grupo que se vira para dentro com uma cultura e visão do mundo próprias, na sua arte, na sua estética, rejeitando se calhar “o sistema”, sendo eles próprios um sistema. Quem sabe se o amor surge nessa comunhão.

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