20 fevereiro 2010

Recém-nascidos



O que é que se derrete dentro de nós quando olhamos um bébé? Que instinto é este de protecção, de amor puro? Uma emoção trespassa todo o corpo e afecta os sentidos, um dedo que quer tocar, que percorre as linhas pequenas da testa, as bochechas e mão, que se delicia na pressão da pequena mão que agarra, o cheiro a bebe (oh pó de talco Jonhson&Johnson, quantas gerações de amor recém-nascido?), e o olhar que não se solta.  Podia ficar o dia todo a olhar um bébé recem-nascido!

19 fevereiro 2010

Gótica

Reparei primeiro nas unhas pintadas de preto descobertas nas luvas de dedos cortados. Depois vi o desenho do Jack Skellington. Hum... Bloqueando a voz da minha avó que fala na minha cabeça dizendo “Esta juventude está perdida!”, não consigo deixar de me perguntar porque deseja uma rapariguinha, que não terá ainda 18, anos ser feia? E imediatamente surge a questão, e estes pais, o que pensam, o que sentem quando olham a filha? O piercing a meio da linha do beiço inferior, a gargantilha com uma corrente de metal e uma argola sugerindo uma trela que ali se pode prender e levar esta menina, a sua menina... onde, com quem? A cruz ao peito, o corpete com 4 fivelas que se ajustam à volta da cintura, a saia comprida com folhos, mas negra, tudo negro, o Kispo, a mochila, tudo!

Olho então a cara. Queixo fino, a boca pequenina, bem desenhada, nariz ligeiramente arrebitado, testa marcada pelo acne. Não é bonita, nada mesmo. Tem uma cara tão vulgar que provavelmente não teria reparado nela não fossem as unhas e o preto.

E assim se evita a normalidade, assim um espírito único, leve, luminoso, fechado num corpo normal, numa rapariga normal, fechado no interior de Portugal, faz-se notar e encontra a pertença e a comunhão numa comunidade gótica que acolhe com base neste feio, neste escuro. Uma comunidade que vai alem das convenções, um grupo que se vira para dentro com uma cultura e visão do mundo próprias, na sua arte, na sua estética, rejeitando se calhar “o sistema”, sendo eles próprios um sistema. Quem sabe se o amor surge nessa comunhão.

17 fevereiro 2010

Metáforas

Esta tarde, numa reunião de trabalho, usaram-se tantas metáforas que, além de notar a riqueza visual que trouxeram à discussão, fiquei a pensar em porquê estas pessoas em concreto que se sentaram à mesa hoje falaram de forma tão ilustrativa?

Especificamente, as ideias que discutimos foram ingredientes para um cozinhado, que a certa altura estava feito, e noutras ainda não. O projecto foi um restaurante, um sistema solar, um planeta. O grupo foi um canivete Suiço e se calhar iamos vender hamburgueres...

Proponho que ilustrar pontos de vista com estas imagens mais ricas do que simples linguagem técnica, tem impacto na aceitação de um ponto de vista especialmente porque numa metáfora concentramo-nos nos pontos fortes da mensagem, sem ligar a detalhes onde muitas vezes estão as discórdias. Numa metáfora sobra espaço para o nosso inconsciente encontrar os pontos que nos une e ordenar aos consciente para deixar de se focar nas pequenas diferenças.

Essa capacidade é afinal, como também foi falado esta tarde, nuclear para um estilo de vida empreendedor, para um olhar o outro de forma a encontrar sempre o que podemos aprender e aplicar no nosso projecto concreto, no nosso mundo, no nosso pais, sem ficar pelo "ah, isso na Alemanha funciona mas os meus clientes... oh, isso em S.Francisco tem sucesso, mas aqui..."

Se calhar estávamos era todos com fome, afinal foi das 12h às 14h!

16 fevereiro 2010

Grito!!!

Vou voltar atrás e mudar o meu passado, vou amar a criança que sobreviveu. Além de olhar as cicatrizes, de lhes tocar, de lhes dar nomes, de as analisar, vou fazê-las desaparecer com o amor que agora me enche. Vou mudar o meu passado para mudar o meu futuro, vou abrir possibilidades, vou abrir as asas e vou ser livre!

15 fevereiro 2010

O meu Principe Encantado

Tem 1,90m e as costas tão largas e fortes que posso encostar-me a ele como se a uma parede, e sentir-te pequenina e segura alia encostada. Envolve-me com os seus braços, segura-me com as suas mãos ossudas e fortes, pousa o queixo no meu cucuruto e ficamos assim... até ele se mudar para o meu pescoço, que beija com paixão e ternura.

O meu principe encantado não tem a mania que sabe cozinhar, lá em casa quem cozinha sou eu e ele arruma e põe a mesa e trata da roupa e leva e tráz e põe, sem eu ter de lhe pedir nada.

Ás vezes acorda-me com beijos nas costas e ficamos horas infindas na cama.
Amamo-nos, queremo-nos, desejamo-nos.

É inteligente, muito mais do que eu, tem sempre alguma coisa para me ensinar. É trabalhador, honesto, eficaz e organizado. É respeitado, é um lider natural. Fala pouco e baixo, mas todos param para o ouvir. Ele é um homem bom!

É atento a todos os sinais que lhe dou. Recorda e celebra todas as datas importantes e surpreende-me constantemente. Nunca se sente criticado pelo meu olhar ou pelo meu silêncio. É dedicado, leal, companheiro, respeituoso, constante, fiável.

O meu principe encantado é lindo, elegante, sedutor e dança lindamente! Segura todas as portas e beija a mão das senhoras velhas que não gostam de beijos na cara. Sabe estar em qualquer situação e até atura a minha mãe.

Há um lado do meu principe que só eu conheço, ele é o segredo mais bem guardado do mundo, é brincalhão e livre mas vulnerável nas minhas mãos. Eu sou a única mulher na vida do meu principe encantado, inquestionada, inquestionavel. O meu principe é a minha base, a minha raiz.

Ele é o espaço onde eu sou livre.

Ver. Ouvir. Amar.

Vejo-te atrás do jornal. Ou melhor, não te vejo, o jornal cobre-te inteiro. É daqueles jornais enormes, à antiga, é o Expresso, imenso. Deve ser muito importante o que lês, absorve-te e não me vês. Sento-me ao teu lado, abro também o jornal, imito-te para me fazer notar. Se me portar bem, se fizer tudo como deve ser, se imitar na perfeição...

Aguardo no escuro um beijo de boa-noite. Aguardo ser reconhecida. Impaciento-me, assusto-me. O escuro é tão frio, denso. Chamo-te mas a minha voz não perfura esta escuridão imensa que me afunda, não chega até ti...

Espero-te nem sei onde... à porta, em casa, sentada na cama, na soleira da entrada. Espero... Nunca sei quando chegarás, se chegarás. Procuro as horas, tenho concentrar-me na televisão, sigo uma formiga a debater-se com os sulcos entre as pedras da calçada. Espero... Espero...

Entro no carro e ouço-te. Desculpa o atraso querida... Este transito! Neste país não há vontade política para nada! Tento. Hoje eu... É só grafitis, delinquentes, cambada de mal-criados! Aguardo outra oportunidade. Hum hum. Pois, tens razão.

Silêncio.