18 janeiro 2011

Se lhe saísse o euromilhões ia trabalhar na 2ª-feira?


Nos últimos tempos vivo este dilema, não porque me tenha saído o Euromilhões (era bom!) mas porque após um período semi-sabático é agora importante para mim voltar a um trabalho "estruturado", por assim dizer, e quero encontrar algo que me faça feliz! Procuro um trabalho onde possa responder a esta pergunta com um convicto sim! Mas como saber que trabalho é esse?

Sempre que tenho um problema procuro ferramentas para o solucionar.
Se tenho um problema, vou ter também pelo menos uma solução!

Nos Estados Unidos encontrei algumas ferramentas para esta busca, nomeadamente, na pessoa de dois cientistas que estudam um ramo da Psicologia chamado Psicologia Positiva. Em oposição à Psicologia dita "tradicional" que estuda comportamentos desviantes depressões, doenças, mal-estar emocional, etc, a Psicologia Positiva estuda o que nos faz felizes.

Martin Seligman dirige o departamento de Psicologia Positiva da Universidade de Pennsylvania. E dirige também um site ligado à universidade chamado Authentic Happiness, Felicidade Autentica.

Nesse site encontrei 3 descrições, 3 formas de estar no trabalho.

Um trabalho pode ser principalmente para ganhar dinheiro suficiente para viver. Quem tem um trabalho assim e ganha o euromilhões despede-se no próprio dia e vai fazer outra coisa, algo de que gosta realmente. Este tipo de trabalho é uma necessidade, como respirar ou comer. O tempo passa devagar num trabalho assim, e vive-se em antecipação do fim de semana e das férias. Se voltasse atrás, quem tem um trabalho assim faria outra coisa, não recomenda o seu trabalho a ninguém, e só quer reformar-se rapidamente.

Eu chamei a este trabalho um emprego. Conhece alguém que tenha um trabalho assim?

Outra forma de encarar o trabalho mostra-nos alguém que gosta do que faz mas não conta estar ali daqui a 5 anos. O plano é mudar de trabalho para algo melhor. Há partes do trabalho que são uma chatice, mas é importante fazer tudo bem, sempre com um olho no objectivo de ser promovido, crescer profissionalmente e atingir os objectivos estabelecidos, essa é a medida do sucesso. Quem tem um trabalho assim e ganha o euromilhoes compra a empresa onde trabalha para ser chefe dos outros!

Eu chamo a isso uma carreira. Conhece alguém que tenha uma carreira?

À 3ª forma de trabalhar descrita no site Felicidade Autentica eu chamo vocação. Para quem encontrou a sua vocação o trabalho é a parte mais importante da sua vida! O trabalho é vital e definidor, as fronteiras entre a vida pessoal e profissional são difusas porque os amigos são colegas, e os colegas são amigos, e as férias também são momentos para trabalhar. Quem encontrou a sua vocação trabalha por gosto, recomenda o seu trabalho a todos e qualquer um e se ganhasse o euromilhoes iria sem duvida continuar a trabalhar na 2ª-feira!

Ao ler estas 3 definições senti-me afortunada por poder dizer que nunca tive um emprego, já tive uma carreira e apercebo-me de que o que procuro hoje é a minha vocação!

O segundo cientista que me ajudou nesta busca é húngaro e chama-se Mihaly Csikszentmihalyi (Lê-se Mirroi Tchic-sent-mirroi - sim, Mirroi duas vezes!). Mirroi trabalha na Universidade de Claremont em Nova Iorque e tem um projecto chamado “The Good Work Project”. E o que é isso do “bom trabalho”? Mirroi define o bom trabalho como trabalho que é excelente em qualidade, socialmente responsável e significante para quem o realiza.

Excelente, responsável, significante.

Ao perguntar-me se o meu trabalho no passado era tudo isto? Se era excelente, socialmente responsável e significante para mim, encontro respostas um pouco mistas...

Eu estudei Gestão na Universidade Nova de Lisboa e tive oportunidade de trabalhar na Unilever, na Sonae Sierra e numa empresa mais pequena, menos conhecida, de entretenimento, e tecnologia móvel, a TIMw.e. 

Considero que trabalhei em empresas muito boas, onde o trabalho era feito com qualidade. Tecnicamente cresci e aprendi muito por onde passei sobre o mundo dos negócios, das vendas e do marketing. Posso por isso dizer que fiz trabalhos de qualidade.

Por outro lado trabalhei em empresas e rodeada de pessoas responsáveis e preocupadas com o impacto que o seu trabalho tem no mundo (pelo menos a maior parte das vezes).

E gostei do que fazia, do meu dia a dia.

Mas, trabalhei sempre produtos que não são significantes para mim. Na Unilever trabalhei Margarinas – Vaqueiro passando a publicidade. Mas eu cozinho com azeite. Nunca compro margarina, nem passei a comprar.
Na Sonae Sierra o produto eram Centros Comerciais. Uma vez mais, sou cliente quando tem de ser, se tenho pressa e está a chover nada melhor do que as Amoreiras, mas caso contrario prefiro ir passear para o Chiado.
E na TIMw.e. vendi Toques para Telemóveis, até começar a trabalhar na TIMw.e. tinha feito um único download para o meu telemóvel e depois de sair não fiz muitos mais.

3 empresas, 3 produtos que para mim pessoalmente são pouco significantes. Não quer dizer que não sejam significantes em geral e para muitas pessoas, simplesmente não o são para mim. Não é de admirar portanto que ao fim de algum tempo eu me sentisse insatisfeita e com vontade de procurar outra coisas.

Faltava-me e ainda me falta hoje significado para poder chegar àquele trabalho que procuro, que acredito me fará realmente feliz, e a que vou chamar uma vocação.

Usando estas 4 definições de trabalho estou neste momento a dirigir a minha busca. Baseando-me nelas, especialmente na definição de vocação estou a olhar para o que faço nos meus tempos livres, de onde vêem os meus amigos, olho para o que acredito ferverosamente, defendo e recomendo, e de que maneira esse lado pessoal da minha vida toca com o que foi até agora a minha carreira.

Hoje ainda não tenho uma resposta final, mas tenho um caminho.

E o leitor? Se lhe saísse o euromilhões ia trabalhar na 2ª-feira?