15 fevereiro 2010

Ver. Ouvir. Amar.

Vejo-te atrás do jornal. Ou melhor, não te vejo, o jornal cobre-te inteiro. É daqueles jornais enormes, à antiga, é o Expresso, imenso. Deve ser muito importante o que lês, absorve-te e não me vês. Sento-me ao teu lado, abro também o jornal, imito-te para me fazer notar. Se me portar bem, se fizer tudo como deve ser, se imitar na perfeição...

Aguardo no escuro um beijo de boa-noite. Aguardo ser reconhecida. Impaciento-me, assusto-me. O escuro é tão frio, denso. Chamo-te mas a minha voz não perfura esta escuridão imensa que me afunda, não chega até ti...

Espero-te nem sei onde... à porta, em casa, sentada na cama, na soleira da entrada. Espero... Nunca sei quando chegarás, se chegarás. Procuro as horas, tenho concentrar-me na televisão, sigo uma formiga a debater-se com os sulcos entre as pedras da calçada. Espero... Espero...

Entro no carro e ouço-te. Desculpa o atraso querida... Este transito! Neste país não há vontade política para nada! Tento. Hoje eu... É só grafitis, delinquentes, cambada de mal-criados! Aguardo outra oportunidade. Hum hum. Pois, tens razão.

Silêncio.

Sem comentários: