29 abril 2005

como começar... II

«Los niveles principales de concentración, desafío y habilidad son significativamente inferiores por ver televisión que los niveles promedio producidos por la combinación de otras actividades»
Robert Kubey y Mihaly Csikszentmihalyi, Television and Quality of Life, Lawrence Earlbaum Associates, Hillsdale-NJ 1990, p. 81.

Há pouco tempo, em conversa com uma amiga, perguntavamo-nos o que faziamos com o nosso tempo quando estavamos na universidade... nao aprendemos a tocar um instrumentos, nao aprendemos a falar outra lingua, nao nos dedicamos a uma causa... Esse tempo livre, agora tao escasso, era nesse momento da nossa vida um bem sem valor. Apenas agora, que sou devidamente explorada pela multinacional portuguesa que me paga o salário no fim do mês, pelas 12h por dia que lhe dedico, 5 ou 6 dias por semana, dou o o devido valor ao TEMPO.

Tempo para mim, para cuidar do corpo (nao piso um ginasio há mais de dois anos), da mente, dos amigos, dos afectos, para ir ao cinema, para passear...

Nao é só a falta de tempo fisico que importa, a disponibilidade mental depois do trabalho também diminui consideravelmente. Passas o dia a atender o telefone, mandar mails, escrever relatorios, pedir orçamentos, atender o telefone, organizar montagens e desmontagens, discutir com comerciantes, pressionar fornecedores, atender o telefone, passar do comercial, insultar o segurança, discutir com a da limpeza, atender o telefone... depois de tudo isso, como desligar o chip? Como nao insultar o estranho do metro, rosnar à senhora da mercearia (se tenho a sorte de a encontrar aberta), e ignorar os companheiros de casa?

Nao tenho paciencia para me dedicar a nada nem a ninguém mas, com esta historia de crescer, sinto uma necessidade quase absurda de o fazer... uma necessidade que nunca tinha sentido, porque, provavelmente, nunca tinha sido mulher o suficiente para me deixar sentir...

Voltando ao inicio deste escrito, a televisao foi a minha droga durante a adolescencia. Nao me dediquei aos charros (pelo menos nao muito), nem à coca, nem à heroína. Dediquei-me à televisao. Esse era o meu escape, a minha forma de nao pensar, de nao questionar, de nao resolver nada, de nao decidir ser feliz.

Escape? De quê? Questionar? O quê? Resolver? ...

Mas que raio de problemas tens tu menina educada da alta burguesia lisboeta?

Uma Mae diferente...

Uma Mae angustiada, depressiva, pisada pelo seu proprio mundo... que nunca soube dar-me um ambiente estavel e seguro porque ela propria nunca o teve e nao sabe como... uma Mae conpulsiva que ama sem saber demonstra-lo porque nunca foi amada... uma Mae apaixonante dentro da sua miséria... Uma Mae da qual, pouco a pouco me vou libertando... nao a quero abandonar, adoro-a com todo o meu ser, mas nao sou forte o suficiente para transportar as suas penas... pelo menos ainda nao.

Há muita gente que tem familias destroçadas, que nao tem nem metade das oportunidades que eu tive e continuo a ter, que nao é amado nem respeitado por ninguém e apesar de tudo conseguem de alguma forma encontrar o equilibrio interior...

Eu mesma.

Nunca até há um ano atrás me permiti admitir que preciso das pessoas, preciso de amigos, de confidentes, preciso de falar, de exteriorizar, de pôr a vida em perspectiva. Preciso de opinioes, de compreensao, de reprimendas, de conselhos. Preciso da ajuda dos que me querem, dos que amo e respeito.

Já mudei de assunto 3 vezes neste pequeno testamento. Televisao, trabalho, problemas... Estou no fundo a começar este blog outra vez... Estou escrever o que tenho de aprender. Como quando estudava (lembraste Maria?), sempre precisei de escrever o que quero lembrar, de ler e reler o que escrevi pelo meu punho, só assim interiorizo a informaçao, processo os dados, aprendo... a ser mulher.


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