20 outubro 2012

Conflicting incentives

This picture was explained to me a few weeks ago in a Work Law class, by teacher Artur Fernandes, a lawyer with more than 20 years experience in People Management.


I thought it could be used to offer a very simple (too simple?) explanation of Portugal's current struggles...

You see... from the Workers perspective, our Government asks for more taxes but delivers less services, and our Corporations ask for more work but pay less money...

Irrespective of the roots of the current crisis being financial or structural, this basic schema of incentives is not being respected, and social unrest and tax evasion is apparently the only answer...

19 fevereiro 2012

Ultra-marathons


"Running ultramarathons, as in 100 km long races is EASIER than starting a company."
Greg Tseng, the co-founder of social network Tagged

ActualSun here we go!
More posts on living the entrepreneur, start-up, acceleration, international, product creation life coming soon!

For the moment know that:
I'm the proud co-founder of a business analytics and information management company, focusing in solar plants, called ActualSun.
I have 2 partner, who I trust and respect. They do strategy, finance, sales and I do product.
We're on our way to Houston.


23 junho 2011

Português vs. Inglês



Exportar, exportar, exportar!
Exportar é a palavra chave nas noticias, nos jornais, nas discussões politicas.

Fazer aqui e vender lá fora.
Esta é uma parte significativa da solução para a nossa crise económica.

Somos portugueses, conhecidos pelo Fado e a saudade... E lembramos com saudosismo a época dos Descobrimentos, a época em que éramos grandes.
E éramos, éramos grandes exportadores. Íamos à Índia e ao Brasil buscar especiarias e ouro que exportávamos para a Europa toda!

Somos portugueses, somos cerca de 10 milhões.
O Brasil tem 180 milhões de pessoas. Os Estados Unidos 350 milhões. A União Europeia toda, 500 milhões de cidadãos. A Índia 1.000 milhões!

10 milhões de portugueses é pouco... é suficiente para testar, para desenvolver um produto, adaptá-lo às necessidades do cliente, desenvolver o design, os seus aspectos únicos. Mas é pouco para crescer, para ganhar escala e muito dinheiro.

Para vender muito, é preciso exportar!

Vender é satisfazer uma necessidade, é entregar uma solução.
E para o cliente entender a solução, tem de entender a linguagem que usamos para falar com ele.

Comunicar com os nossos clientes estrangeiros numa linguagem que eles entendem é a única solução!

Imaginem uma PME portuguesa. Produziu um software fantástico que pode gerir milhões de processos complexos em segundos. Em Portugal tem no máximo 10 clientes que precisam de um software assim, no resto do mundo centenas, milhares de clientes potenciais! Ou uma PME que produz sapatos, ou toalhas, ou loiça, ou roupa, ou software para a saúde, para carros....

10 milhões de clientes potenciais ou 500 milhões? Ou 1.000 milhões?

Uma PME, menos de 100 pessoas, se calhar umas 10, 15...

Imaginem essa empresa a esforçar-se por ter todos os materiais de comunicação em Português e em Inglês, e se calhar até em mais línguas, alemão, francês, chinês! Imaginem este pequeno grupo a traduzir tudo, o site, as apresentações, os documentos. Imaginem as horas de trabalho, o tempo que voa pela janela. E Imaginem o risco de nem a informação em português, nem a informação em língua nenhuma ficarem grande coisa porque o tempo fugiu, não deu para tudo...

Imaginem um freelancer, um consultor, vive das horas que trabalha. Tem décadas de experiencia, mestrados, formações. Fora de Portugal cobra 1000€ ao dia, aqui não consegue 300€ - em que língua deve estar o seu blog pessoal?

Mas há muitos países, há muitos idiomas.

A minha proposta é focar! Focar a atenção, energia e tempo numa só língua, na língua franca do nosso tempo. 

Uma língua franca é uma língua sistematicamente usada para facilitar a comunicação entre duas pessoas que não partilham uma língua mãe, ou em particular, quando a língua franca é um 3º idioma, diferente da língua mãe de ambos os interlocutores.

Sabem qual é? Durante os Descobrimentos era o Latim, agora é o inglês e nós, como cidadão devemos aceitar isso com naturalidade e comunicar com os nossos clientes, parceiros, investidores, apenas em inglês.

Decidir comunicar em Inglês é uma decisão estratégica, de apoio ao objectivo estratégico do país e ao objectivo estratégico de cada empresa ou freelancer de vender mais no estrangeiro. Esta decisão é independente da ligação emocional que temos pela nossa língua, pelo belíssimo e riquíssimo português.

Imaginem aquela PME a ter apenas um site em inglês, apenas uma apresentação institucional em inglês. Aquela informação pode viajar pelo mundo todo! Qualquer cliente a pode entender. Existem mais de 1400 milhões de pessoas que falam inglês. Inglês é a língua mais ensinada como 2ª língua no mundo. Alemães, os chineses, os indianos, os americanos, os belgas, os austríacos, todos vão entender a solução que a nossa PME lhes propõe, e todos vão ser potenciais clientes.

Podemos escolher!
Podemos escolher vender em Portugal, em Português, ou vender no mundo.
E podemos vender no mundo com pouco trabalho, apenas em inglês, de forma descomplicada.

Somos Portugueses, pensamos com o coração. Essa é uma característica maravilhosa que nos une a todos, somos amigos para a vida, leais e honestos.
Eu acredito que podemos mostrar estas e outras características ao mundo sem trair a nossa língua, simplesmente adoptando outra...

Decidi esta semana passar toda a minha comunicação online para inglês. Quero ser cidadã do mundo, quer que qualquer potencial cliente me entenda. Pelo que este será o meu último post em português.

Este é o meu convite, para uma pequena empresa ou associação, para um freelance, é demasiado difícil e dispendioso manter a sua comunicação institucional em duas ou mais línguas, por isso, a minha sugestão, o meu convite, é comunicar apenas em inglês!

14 junho 2011

O tempo perguntou ao tempo...


... quanto tempo o tempo tem para...

Ler emails?!


Que tipo de telefone tem? 
Um blackberry? Um iPhone? Qualquer smartphone? 
Se respondeu sim, conta-se entre os mais de 80 milhões de pessoas que têm um smartphone na Europa.

Dão imenso jeito! Dá para ver emails, fazer chamadas, ler as noticias, ler emails, jogar jogos, ler emails… têm aplicações para usar o facebook, o twitter, para ler a Bola, o jornal… Este pequeno aparelho serve para imensa coisa, e o que todas estas coisas que acabo de enumerar têm em comum é que são curtas e rápidas.

Passamos muito tempo a saltar de informação em informação.

Nos EUA, um adulto médio passa 50 minutos por dia a olhar para o telefone,

Eu acho que passo mais do que isso...

E os emails?

Em 2007 um estudo mostrou que 87% dos americanos passam 7 horas por semana a gerir emails. 7 horas é quase um dia inteiro de trabalho. Com 1 dia por semana a gerir emails só sobra 4 dias para trabalhar!

E o pior é que é 1 dia dividido aos bocadinhos, i.e., afecta a semana toda.

De facto, a internet está a mudar os nossos cérebros e a dificultar-nos a tarefa de nos concentrarmos.

Eu passo muitas hora diante do computador, com a internet e o email ligados.
Ao longo da minha vida profissional habituei-me a trabalhar reagindo a emails.
Foram 5 anos de Marketing e Vendas, durante os quais, eu olhava para as vendas uma vez por dia, semanalmente e mensalmente passava uma manhã a analisar os números e o resto do tempo, i.e., cerca de 90% do meu tempo, eu reagia a emails. Na minha equipa nós auto entitulavamo-nos os bombeiros, passávamos o dia a apanhar fogos, os sms que não estavam a chegar, operador que queria não sei o quê, a queixa do cliente, o chefe que quer um relatório novo, a factura por pagar, o afiliado que faz spam... enfim... Todas as minhas tarefas tinham um email como origem.

Hoje a minha vida mudou. Montei uma associação sem fins lucrativos, os meus objectivos já não se medem em vendas diárias, e estou à frente de um projeto que está a nascer, a dar os seus primeiros passos, por um lado, ninguém me manda emails a dizer-me o que fazer, por outro, é preciso pensar estrategicamente todos os dias, e não de mês a mês.

E então percebi, que a forma como me tinha habituado a trabalhar já não servia...
Passei umas semanas sem perceber o que se passava... durante o dia verificava os meus emails vezes sem conta, no computador ou no telefone, mas o ritmo aqui é diferente... não havia emails novos a cada 5 minutos, não havia tarefas às quais reagir. Mesmo assim trocava bastantes emails, porque o meu novo projeto tem outra característica desafiante que é nem sempre a minha equipa está fisicamente na mesma sala...  Tinha documentos para ler, para escrever, chamadas para fazer, e ia fazendo tudo mais ou menos ao mesmo tempo, sempre verificando o meu email e respondendo a conversas por vezes irrelevantes de 5 em 5 minutos, ou menos! Chegava ao final do dia com a sensação de que não tinha parado, mas também não tinha feito nada de jeito. Não tinha terminado a maior parte das minhas tarefas...

Senti-me uma incompetente, não estava a atingir os resultados que queria, algo tinha de mudar!

Então li um artigo neste site no bigthink.com sobre "batching". Traduzido diretamente "batch" quer dizer lote. E o artigo propõe fazer lotes de tempo de 30 minutos cada e dedicar cada lote apenas a uma tarefa.

Se começo a ler emails, então é isso que vou fazer durante 30 minutos, se começo a escrever um documento então é só isso que vou fazer durante 30 minutos, se estou a ler artigos num jornal, então são 30 minutos de leitura.

Esta disciplina tem vários aspectos interessantes.
Primeiro a sensação de urgência, porque o tempo acaba de 30 em 30 minutos, aquela sensação de tenho de acabar isto porque são quase horas de terminar o dia, acontece todos os 30 minutos! Por outro lado é uma disciplina que obrigada a pensar um pouco antes e começar algo... será que eu quero mesmo passar 30 minutos no facebook?

Depois de experimentar um pouco decidi alterar ligeiramente a forma de fazer os lotes,  adaptá-la às minhas tarefas.

Fiz uma lista de coisas, marquei a cores o que é mais importante, e decidi que quando começasse uma tarefa, só ia parar quando a terminasse. Por vezes isso significa que para uma só tarefa leio um email, abro 2 ou 3 documentos diferentes, e faço uma chamada, mas sempre focada em terminar a tarefa que iniciei, sem me distrair com outros temas, outros emails, outros documentos, etc...

Foi uma descoberta! Com este sistema ganhei 2 coisas maravilhosas:
1.     todos os dias, várias vezes por dia tenho a sensação de que fiz algo, cumpri o meu dever, risquei uma coisa da lista!
2.     e o melhor de tudo é que assim, sem saltar de minuto em minuto de informação em informação, concentro-me de tal maneira que o tempo pára!

Alguém disse que a maior loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar um resultado diferente. Este mês, mudei, alterei os meus resultados e resolvi partilhar o meu método. De repente foi como se o meu tempo tivesse duplicado! E que melhor altura do ano para ter mais tempo do que o verão, não é verdade? ;)

23 maio 2011

Entrepreneurship, now!



Do you have a Linkedin profile? What about facebook?

Now think... Linkedin and Facebook would not be possible without one thing...
Can you image what it is?

Reid Hoffman, the founder of Linkedin says an entrepreneur is someone that jumps of a plane and builds the parachute on the way down.



The Wikipedia has a somewhat more formal definition “An entrepreneur is a person who has possession of a new enterprise, venture or idea and is accountable for the inherent risks and the outcome.”

Putting it simply, and entrepreneur is someone that starts a new company and makes it work!

To me, personally, entrepreneurship is a voyage, full of discoveries, new paths, hardships, and happiness, my mission, as I work with entrepreneurs, is to help them in this voyage, to help them write their own map of the way!

Hummm…

So… Why is this important? Why should you care about entrepreneurship?

Well, 1st of all because according David Audretsch, who had been considered one of the 60 most influential economists of all time, entrepreneurship is a driver for economic growth.

If we measure economic growth as, for example, the capability of companies to generate profit and consequently to pay taxes, the picture in Portugal is very, very bleak… 

37% of all the taxes collected in Portugal were collected from 90 companies, I’ll say that in a different way to make it clear – there are 90 companies that pay almost 40% of all the corporate taxes in Portugal (this is 2009 data). 

Amazing isn’t it?

So does this mean small companies are irrelevant? No! On the contrary!

Everything starts small, the biggest pine tree starts with a single, tiny pine seed! 



To have more BIG companies, countries need lots of small companies! In the USA 90% of all companies are small, 85% of new jobs are created by new, nascent companies. And that is why Prof Audrestch considers entrepreneurship to be the driver of growth.

In Portugal, only 4 in every 100 people are entrepreneurs.  4 in 100  is below the European average… and 3 times less than in the USA were the number is more then 12 in every 100 people.

Why is this? And what can we do about it?

There is a study, the Global Entrepreneuship Monitor that says Portuguese culture is not prone to entrepreneurship because

1. Entrepreneurship takes lots of responsibility, individual responsibility, it demands taking responsibility for our actions and results, being able to plan, to execute and to follow through with your commitments. And according to that study, we Portuguese are not individually responsible people.

This means that to foster entrepreneurship we need to foster responsibility too.

So, from today, something you can do is – everytime something you don’t like happens – take the responsibility to change it! This can be small things like if you see something out of place, put it back, don’t use the traffic to excuse you for being late anymore, leave 10 minutes earlier! In the small things, and in the large things, take responsibility.

2.  Entrepreneurs are risk takers – they jump of the plane! Statistics from the USA show that after 10 years, only 30% of companies are still in existence. That means 70% fail, are sold, stop existing somehow.

Have you considered lately what risk you could take in your life? Could it be asking for a raise? Telling someone you love him? Go back to school even though you’re not sure if you’ll success?  Small and big risks are in our lives everyday! Take them! Try it! Test it!

Like this a new culture of entrepreneurship may be born in our country! And with it a new possibility for economic growth!

Movies like “The social network” have shown us the potential gains of taking responsibility, of taking the risk.

Facebook had 18.000 dollars to start with,  it is now worth more then 30 billions dollars.
30 billion! 24% of this still belongs to Mark Zuckerberg the founder, and more or less 30% belongs to the staff – to the people that believed in it from the start!

So it can be worth it!

And this takes me back to my initial question… What made Linkedin and Facebook possible?

My answer is: their founders, the entrepreneurs behind the idea that had the passion and the guts to follow their dreams! These websites or should I say services, networks, enablers... could not exist if their founders had decided it was too risky, too hard, it would take too long to build them! They would not exist if the founders had not committed themselves to building their dream! And I tell you more – Zuckerberg and Hoffman probably had no idea how big their companies would grow to be!

And this is a really important too – to create a company, does not mean it has to be Facebook – aim high! But do not let the big things that have already happened deter you!


Remember the seed – all the big trees start as tiny seeds and grow, step by step, inch by inch.







21 fevereiro 2011

O lugar do outro



Filha, o meu marido e o meu Pai já chegaram?
Não Avó... o avô e o bisavô já morreram há tantos anos...

Filha! O meu marido, o Zé?! Ele saiu com o meu Pai!
Não, Avó... o avô e o bisavô... já morreram...

Filha! o meu marido e o meu Pai já chegaram?
Não avó, eles...

A minha avó tinha 94 anos quando tivemos esta conversa...
Os sintomas da demência que a consumiu nos últimos meses de vida eram muito fortes. Perguntava por familiares e amigos mortos há muito. E fazia-o repetidamente. Não é exagero dizer que podia perguntar 15, 20 vezes por alguém, sempre preocupada, cada vez mais nervosa.

Dei-me conta, na vigésima pergunta, que lhe respondia quase sempre com um NÃO! Não, avó. Não, Avó! Já lhe disse que várias vezes...

“Se eu soubesse a resposta não perguntava outra vez!”

Se a avó soubesse... Se a avó soubesse a resposta não perguntava outra vez...
E de repente eu soube a resposta!
Entendi: no mundo da minha avó, o meu avô, o meu bisavô estavam vivos e a minha avó não sabia onde andavam.
O que a mim parecia estranho, impossível, até bizarro, para Ela era a absoluta realidade.

Um dia aprendi que há 3 formas de ver o mundo.
A minha, a do outro, e a de quem está de fora. i.e. a 1ª, a 2ª e a 3ª posição de perceber o mundo, ou posição perceptual.

Uma posição perceptual é uma forma de dar atenção ao mundo.

Na 1ª posição, eu sou eu. Olho para o mundo e vejo-o segundo a minha experiencia, a minha memoria, as minhas sensações do que é bom e do que é mau.

Na minha história, usando a 1ª posição perceptual eu sabia que o meu avô morreu há quase vinte anos, e o meu bisavô há uns 40. Não fazia sentido nenhum perguntar por eles, por isso a cada pergunta eu respondia Não.

Mas a minha avó não tinha naquela altura a mesma visão do mundo do que eu. Aliás, ninguém tem exactamente a mesma visão do mundo que outra pessoa.

Na 2ª posição, eu sou o outro, vejo o mundo como ele vê, com a sua experiencia, a sua memoria e as suas sensações. Na 2ª posição perceptual, eu desenvolvo a minha empatia pelo mundo do outro, pelo seu lugar.

Hum... isto é muito bonito mas... como posso eu saber o que o outro sente?
A chave está em copiar o melhor que podemos o seu olhar.
Vou explicar melhor o que quero dizer com “copiar o seu olhar”.

Começo por observar a cara, o corpo e a postura do outro. Copio apenas internamente, usando a minha imaginação.

A minha avó estava assim, torcia as mãos, levava os olhos de lado a lado, como que à procura de algo. Apertava o lenço, zangada.

Depois, fecho os olhos e volto a abrir, e vejo o mundo como se fosse ele. E de repente, puff, estou na 2ª posição!

A 3ª posição observa a situação de ambas as partes de forma independente, sem envolvimento.

Também tenho um truque para esta! Imagino que sou uma mosca e que estou no canto da sala, lá no alto, a ver o que se passa aqui. Descrevo a rapariga que vejo (que sou eu) e quem mais está com ela. Observo mais uma vez as suas caras, os corpos, as posturas. Para onde olham, no que tocam, que tom de voz usam...

Nessa tarde eu via uma senhora muito velhinha, agitada, preocupada, um pouco zangada até. E uma rapariga nova que repetia Não, Não, Não, por vezes com alguma impaciência.

Um dia aprendi que há estas 3 formas de ver o mundo, e foi naquela tarde que entendi o que queriam dizer.

Filha, o Zé e o avô José Homem?
Estão de viagem minha querida, ligaram há pouco, só voltam tarde...
Ah que bom!

Não foi uma mentira que eu lhe disse. No mundo da minha avó era possível ser assim. E ela não perguntou mais. Nessa noite comeu bem, dormiu descansada, e até ao dia em que o coração dela parou não voltei a dizer “Não avó”, disse-lhe que sim a quase tudo, e vi como isso a fez feliz.

E vocês, já experimentaram o lugar do outro?

18 janeiro 2011

Se lhe saísse o euromilhões ia trabalhar na 2ª-feira?


Nos últimos tempos vivo este dilema, não porque me tenha saído o Euromilhões (era bom!) mas porque após um período semi-sabático é agora importante para mim voltar a um trabalho "estruturado", por assim dizer, e quero encontrar algo que me faça feliz! Procuro um trabalho onde possa responder a esta pergunta com um convicto sim! Mas como saber que trabalho é esse?

Sempre que tenho um problema procuro ferramentas para o solucionar.
Se tenho um problema, vou ter também pelo menos uma solução!

Nos Estados Unidos encontrei algumas ferramentas para esta busca, nomeadamente, na pessoa de dois cientistas que estudam um ramo da Psicologia chamado Psicologia Positiva. Em oposição à Psicologia dita "tradicional" que estuda comportamentos desviantes depressões, doenças, mal-estar emocional, etc, a Psicologia Positiva estuda o que nos faz felizes.

Martin Seligman dirige o departamento de Psicologia Positiva da Universidade de Pennsylvania. E dirige também um site ligado à universidade chamado Authentic Happiness, Felicidade Autentica.

Nesse site encontrei 3 descrições, 3 formas de estar no trabalho.

Um trabalho pode ser principalmente para ganhar dinheiro suficiente para viver. Quem tem um trabalho assim e ganha o euromilhões despede-se no próprio dia e vai fazer outra coisa, algo de que gosta realmente. Este tipo de trabalho é uma necessidade, como respirar ou comer. O tempo passa devagar num trabalho assim, e vive-se em antecipação do fim de semana e das férias. Se voltasse atrás, quem tem um trabalho assim faria outra coisa, não recomenda o seu trabalho a ninguém, e só quer reformar-se rapidamente.

Eu chamei a este trabalho um emprego. Conhece alguém que tenha um trabalho assim?

Outra forma de encarar o trabalho mostra-nos alguém que gosta do que faz mas não conta estar ali daqui a 5 anos. O plano é mudar de trabalho para algo melhor. Há partes do trabalho que são uma chatice, mas é importante fazer tudo bem, sempre com um olho no objectivo de ser promovido, crescer profissionalmente e atingir os objectivos estabelecidos, essa é a medida do sucesso. Quem tem um trabalho assim e ganha o euromilhoes compra a empresa onde trabalha para ser chefe dos outros!

Eu chamo a isso uma carreira. Conhece alguém que tenha uma carreira?

À 3ª forma de trabalhar descrita no site Felicidade Autentica eu chamo vocação. Para quem encontrou a sua vocação o trabalho é a parte mais importante da sua vida! O trabalho é vital e definidor, as fronteiras entre a vida pessoal e profissional são difusas porque os amigos são colegas, e os colegas são amigos, e as férias também são momentos para trabalhar. Quem encontrou a sua vocação trabalha por gosto, recomenda o seu trabalho a todos e qualquer um e se ganhasse o euromilhoes iria sem duvida continuar a trabalhar na 2ª-feira!

Ao ler estas 3 definições senti-me afortunada por poder dizer que nunca tive um emprego, já tive uma carreira e apercebo-me de que o que procuro hoje é a minha vocação!

O segundo cientista que me ajudou nesta busca é húngaro e chama-se Mihaly Csikszentmihalyi (Lê-se Mirroi Tchic-sent-mirroi - sim, Mirroi duas vezes!). Mirroi trabalha na Universidade de Claremont em Nova Iorque e tem um projecto chamado “The Good Work Project”. E o que é isso do “bom trabalho”? Mirroi define o bom trabalho como trabalho que é excelente em qualidade, socialmente responsável e significante para quem o realiza.

Excelente, responsável, significante.

Ao perguntar-me se o meu trabalho no passado era tudo isto? Se era excelente, socialmente responsável e significante para mim, encontro respostas um pouco mistas...

Eu estudei Gestão na Universidade Nova de Lisboa e tive oportunidade de trabalhar na Unilever, na Sonae Sierra e numa empresa mais pequena, menos conhecida, de entretenimento, e tecnologia móvel, a TIMw.e. 

Considero que trabalhei em empresas muito boas, onde o trabalho era feito com qualidade. Tecnicamente cresci e aprendi muito por onde passei sobre o mundo dos negócios, das vendas e do marketing. Posso por isso dizer que fiz trabalhos de qualidade.

Por outro lado trabalhei em empresas e rodeada de pessoas responsáveis e preocupadas com o impacto que o seu trabalho tem no mundo (pelo menos a maior parte das vezes).

E gostei do que fazia, do meu dia a dia.

Mas, trabalhei sempre produtos que não são significantes para mim. Na Unilever trabalhei Margarinas – Vaqueiro passando a publicidade. Mas eu cozinho com azeite. Nunca compro margarina, nem passei a comprar.
Na Sonae Sierra o produto eram Centros Comerciais. Uma vez mais, sou cliente quando tem de ser, se tenho pressa e está a chover nada melhor do que as Amoreiras, mas caso contrario prefiro ir passear para o Chiado.
E na TIMw.e. vendi Toques para Telemóveis, até começar a trabalhar na TIMw.e. tinha feito um único download para o meu telemóvel e depois de sair não fiz muitos mais.

3 empresas, 3 produtos que para mim pessoalmente são pouco significantes. Não quer dizer que não sejam significantes em geral e para muitas pessoas, simplesmente não o são para mim. Não é de admirar portanto que ao fim de algum tempo eu me sentisse insatisfeita e com vontade de procurar outra coisas.

Faltava-me e ainda me falta hoje significado para poder chegar àquele trabalho que procuro, que acredito me fará realmente feliz, e a que vou chamar uma vocação.

Usando estas 4 definições de trabalho estou neste momento a dirigir a minha busca. Baseando-me nelas, especialmente na definição de vocação estou a olhar para o que faço nos meus tempos livres, de onde vêem os meus amigos, olho para o que acredito ferverosamente, defendo e recomendo, e de que maneira esse lado pessoal da minha vida toca com o que foi até agora a minha carreira.

Hoje ainda não tenho uma resposta final, mas tenho um caminho.

E o leitor? Se lhe saísse o euromilhões ia trabalhar na 2ª-feira?